Luto

Mais um dia acordo como se eu estivesse sufocada. Coloco uma das minhas mãos na minha garganta como se eu quisesse que aquilo que estivesse ali, entalado, simplesmente saísse, tomasse forma. 

Meus olhos que parecem confusos e assustados, observa com pouca clareza o cômodo bagunçado. Reflexo do que me tornei. 

Por um segundo, meu olhar encontra o nosso anel de borboleta. Tento tocá-lo com o dedo da outra mão. Em vão. A energia me consome, me suga e piora. Sinto de novo o sufoco que agora invade todo o meu ser. 

Com dificuldade, levanto-me da cama. A cabeça dói, desde a notícia que me foi dada. Me perdi na escuridão das palavras que mais tarde foram confirmadas. 

O meu luto tornou-se todos os dias desde que o seu coração parou de bater. 

Eu tive esperanças. Acreditei que a vida pudesse surpreender até mesmo nos piores momentos. Erro meu? Era pra ser? Tantos questionamentos sem respostas. 

Quando olho para as minhas mãos, agora trêmulas, tento respirar fundo. 
Mais uma vez, como todos os dias: respiro fundo até deixar de existir qualquer sentimento. De luto.

"Um dia de cada vez", repito. 
Mas tudo o que eu sinto é mais um dia sem o seu sorriso comigo. 

É mais um dia que tenho que mentir que está tudo bem. E é mais um dia para me olhar no espelho e mentir pra si mesma que tudo ficará bem. 

Meus olhos negros encaram nesse momento o reflexo do que vê no vidro. 
Metade de mim não está mais ali. 

A verdade é que esqueceram de me salvar.  

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